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Assim como o cotidiano das ruas e das
novelas lança novas palavras com novo significado a cada dia, o mundo com suas transformações
faz surgir novos significados e, para eles, surgem novas palavras que tentam
significar o que o homem está tentando compreender. Assim acontece com a
palavra design. O termo design tem aparecido constantemente no
nosso dia-a-dia, representando parte de um novo vocabulário. Muitas vezes pode
significar algo novo que esteja aparecendo no mercado ou mesmo um novo estilo
que é lançado por um novo mito, ou ainda, aparece quando queremos nos referir a
algo que esteja na moda como “você viu o design
dos novos óculos Pierre Cardin?”.
Muita gente procura hoje as escolas
de desenho perguntando como é que se faz para se tornar um desenhista dos meios
de reprodução de massa. E esta dúvida permanece quando nos deparamos, nas
escolas de desenho, diante de um modelo nu e não de uma cafeteira. Que diabos
então a sociedade tem trazido de novo, já que continuamos chamando o modelo nu
de desenho e a cafeteira de objeto? Ao lidarmos com os meios de reprodução, já
estamos lidando com o que poderemos chamar de design. O estilo da cópia.
Qual a diferença então entre olhar um
modelo vivo e uma cafeteira? Essa explicação é bastante vasta, principalmente
quando nos damos conta das possibilidades do que pode vir a ser o ato de
representar algo. Podemos dizer que ao estudar o modelo vivo estamos
transformando nosso ato de olhar em uma manifestação gráfica, numa forma de
representar a realidade, e o mesmo ocorre quando olhamos para uma cafeteira. No
momento em que a transformamos em objeto de cópia, ela não é mais desenho, ela
é design.
A palavra design vem do inglês e quer dizer projetar, compor visualmente ou
colocar em prática um plano intencional. É muito fácil imaginar que Van Gogh
compôs visualmente seus quadros, e não podemos descartar que, para um dos
maiores pintores do impressionismo, tenha havido intenção ou um plano a priori de uma pintura em forma de
esboço ou rough. Então por que Van
Gogh não era um designer? Se, ao
pintar seus girassóis, ele estava tentando comprovar que a luz emitida pelo
quadro se faz através de pontos contínuos e suas cores complementares, estava
pensando como um pintor. Mas se ele vivesse para ver a reprodução de massa, e
ao pintar os girassóis quisesse que o quadro estivesse na banca de jornais, ele
seria um designer.
[Trecho das páginas 8 e 9]
A confecção de um objeto,
principalmente antes da passagem do século, era função do artesão. Com suas mãos
hábeis e com influência do design que
passava de pai para filho, cabia a ele confeccionar um objeto único. Com isso,
o mundo era povoado por objetos únicos como uma cadeira, uma mesa, uma tina
d’água, ou seja, objetos que eram feitos um a um, tendo seu design refletido pelo estilo que cada
artesão desempenhava conforme os objetos que fazia – muitas vezes objetos
personalizados feitos para famílias importantes.
Com o surgimento da indústria houve
uma preocupação em aproximar as atividades do artesão e da máquina, e isto pode
ser fácil de entender levando em conta que a atividade do artesão não poderia
ser dispensada de um dia para outro – todas as transformações sociais são
lentas, principalmente quando falamos numa época de profundas mudanças como foi
a revolução industrial.
Muitos começam a pensar na
possibilidade dessa integração, mesmo que para isso prevalecesse ainda o estilo
do artesão sobre a máquina. O homem dessa época tinha muito medo de uma
possível escravização sua pela máquina. É como se utilizássemos da máquina o
seu tempo reduzido de produção, deixando prevalecer o estilo do artesão.
Duas das pessoas que mais
contribuíram para este pensamento foram John Ruskin e Willian Morris.
Diante do mundo que começa a se
mecanizar o homem vai contribuir definitivamente para uma grande revolução
estética e social que é a das formas dos objetos que usamos no dia-a-dia – elas
passam a ser diferentes de um dado instante para outro. A ideia dessa revolução
mecânica era poder atingir o grande crescimento das populações. Para o futuro
já se pensava em produzir artigos baratos em menor período de tempo em relação
ao produto artesanal, não restringindo mais a arte do design às elites, mas levando em conta a possibilidade de
reproduzir um objeto em série, para que a grande população pudesse adquiri-lo.
Partindo então da ideia de o design
estar ligado a um objeto intencional é fácil de compreender que a própria
indústria iria criar uma necessidade com relação ao conceito de funcionalidade.
Ao objeto não caberia apenas ser bonito, mas ele tinha que adequar-se a uma
função designada pelo artesão, futuro designer.
Não havia apenas interesse em que a
arte fosse do povo, mas que fosse também para o povo, era necessário que as
fases para construção de um objeto fossem democratizadas e popularizadas para
que atingissem uma finalidade social de uso. O desenho finalmente passou a ser
entendido como design, ou seja,
compreendido como desenho industrial. A necessidade de se pesquisar a
simplicidade das formas para que sua popularidade pudesse ser atingida não
estava somente restrita à aquisição do objeto pela população, mas interessava
também, na medida em que facilitasse sua execução pela máquina.
Deveríamos então perguntar: por que a
ideia de simplicidade está diretamente ligada à produção em série? Bem, sem as
mão do homem seria impossível que a máquina fizesse tantas formas ornamentais.
Surge então a ideia de adequar o design
– ou projeto – a uma concepção de indústria mecânica, para que daí por diante
pudéssemos obter objetos sem série: jarro, cadeiras, vasos, ou seja, objetos
úteis. É importante lembrar que nessa época surge a indústria automobilística,
e seria impossível fabricar os automóveis um a um. O automóvel, na realidade,
surge na sociedade mecanizada com a proposta de ser um objeto seriado. É daí
que se criam as linhas de montagem onde cada grupo de operários tem uma função,
um coloca o paralama, o outro o pneu, os vidros, calotas e o carro vai ficando
pronto. É como pedir um sanduiche no balcão do MacDonald’s: eles são produzidos
através da concepção de linha de montagem.
É por isso que a atividade do designer hoje manifesta-se através do
trabalho em grupo. São arquitetos, desenhistas industriais, muitas vezes
publicitários, na confecção de embalagens ou catálogos, tudo isso para produzir
um objeto para a massa e de baixo custo.
É na linha de frente artesão-máquina
que surge a escola Bauhaus, fundada em 1919, na Alemanha, por Walter Gropius.
Seria impossível entender hoje o que é design
sem entender o que foi a Bauhaus.
Para compreender melhor a atividade
de um designer é necessário observar,
ao passar do tempo, alguns movimentos que surgiram para incentivar a procura do
homem por novas formas e com isso descobrir novos materiais. A revolução
industrial trouxe mudanças profundas em nossa vida e era necessário, com o
surgimento de uma sociedade industrializada, que essas manifestações passassem
a ser mais uma possibilidade para o homem entender a era mecanizada.
[Trecho
das páginas 14 a 19]